A Música Pop pelo Olhar de Edgar Morin
- hitsdomilenio
- 6 de mai.
- 3 min de leitura
Teoria Culturológica no inconsciente popular
Por Amanda Alves, Maria Eduarda Soares de Freitas e Natanne Pabline
O termo “Cultura Pop” surgiu no século XX, e se refere ao conjunto de práticas, comportamentos e conteúdos aceitos e consumidos pela maioria da sociedade. Devido ao seu caráter acessível, comercial e por estar frequentemente ligada ao entretenimento, pode ser vista como uma ferramenta, ou até mesmo um resultado, do processo de massificação. Nesse contexto, a música pop está longe de ser apenas uma expressão artística superficial ou um mero entretenimento industrializado. Através da Teoria Culturológica, desenvolvida por Edgar Morin, podemos observar fatos cotidianos que refletem os conceitos abordados em sua pesquisa.
O gênero musical pop articula valores, símbolos, mitos e desejos que refletem e moldam o comportamento social de forma significativa. Segundo Morin, a cultura de massa deve ser compreendida como uma nova forma de cultura que emerge da sociedade industrial e dos meios de comunicação de massa. A música pop, nesse contexto, não apenas acompanha as transformações sociais, mas as expressa e ajuda a configurar. Os produtos culturais – como canções, videoclipes e performances – se inserem em uma dinâmica de produção e consumo que responde, simultaneamente, às necessidades afetivas, imaginárias e materiais dos indivíduos.
O sucesso de artistas e estilos musicais não se explica apenas por estratégias de marketing, mas pela capacidade de gerar um desejo pelo pertencimento. A busca por amor, felicidade, liberdade, identidade e pertencimento, por exemplo, são temas recorrentes nas letras e estéticas do pop contemporâneo, contribuindo para a formação de uma "atmosfera simbólica", conceito que Morin utiliza para descrever a camada cultural que orienta a inserção dos sujeitos no mundo.
Entre os jovens, essa influência é ainda mais forte. A música pop oferece modelos de comportamento e formas de expressão em um período da vida marcado pela busca de identidade e pertencimento. Ao mesmo tempo em que promove essa identificação e um certo sentimento de coletividade, a cultura pop também atua dentro de uma lógica comercial, buscando agradar a um público grande e variado. Isso faz com que certos padrões se repitam e que muitos conteúdos acabem sendo parecidos, contribuindo para uma padronização dos gostos e das formas de expressão.
A contradição destacada por Morin está justamente aí: a cultura de massa não é algo imposto totalmente de cima para baixo, mas também não é espontânea. Ela existe dentro de uma tensão entre o que é produzido pela indústria e o que é consumido e apropriado pelas pessoas. A música pop, por exemplo, tenta atender aos desejos do público, mas também guia esses desejos com base em interesses comerciais.
A trajetória da cantora pop Beyoncé exemplifica de forma clara os conceitos centrais da Teoria Culturológica, ao reunir, em sua carreira e imagem pública, elementos simbólicos que dialogam com valores afetivos, imaginários e materiais da cultura de massa. Desde sua ascensão como líder do grupo Destiny’s Child nos anos 1990 até sua consagração como artista solo, Beyoncé construiu uma identidade que incorpora ideais de empoderamento feminino, orgulho racial e sucesso individual. Sua performance no álbum visual Lemonade (2016), por exemplo, vai além do entretenimento, ao integrar narrativas de resistência, identidade negra e feminilidade com forte apelo emocional e simbólico, o que exemplifica o papel da música pop como meio de autoexpressão e afirmação cultural. Ao mesmo tempo, a artista é um produto da indústria cultural: seus álbuns, turnês e parcerias comerciais são planejados para atender a um público global, operando sob a lógica da homogeneização e do consumo massivo descrita por Edgar Morin. Mesmo quem não é fã sabe quem ela é, conhece suas músicas, sua família e até as polêmicas que envolvem sua vida pessoal. Assim, Beyoncé representa a dialética da cultura de massa — sendo simultaneamente uma figura de impacto transformador e um indivíduo moldado pelas engrenagens do sistema industrial da cultura.
Diante das análises apresentadas, é evidente como o universo musical também funciona como uma estrutura complexa, com seus signos, símbolos e formas de moldar o comportamento da sociedade. A melodia não é algo simples; uma música é construída, pensada, e influencia diretamente as emoções e o comportamento humano. Nesse sentido, as ideias de Edgar Morin são fundamentais para compreender como a música participa da teia da cultura, influenciando e sendo influenciada pelas dinâmicas sociais.
Comments