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Anos 2000: A Moda Que Nunca Sai de Cena

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    hitsdomilenio
  • 6 de mai.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 6 de mai.

Como a estética dos anos 2000 continua influenciando uma nova geração e o que isso diz sobre nosso tempo

Por Ana Laura Alves dos Santos e Amanda Alves


Falar de moda contemporânea, sem falar dos anos 2000, é meio impossível. O início do milênio marcou uma transformação cultural intensa, impulsionada pelo avanço da tecnologia, pelo boom da internet e por ícones da música pop que moldaram o imaginário fashion daquela geração — e de muitas outras que vieram depois. Em entrevista concedida para esta reportagem, a estudante de moda da PUC-Campinas, Marina Barbosa compartilhou sua visão sobre esse fenômeno, unindo vivência pessoal, pesquisa acadêmica e um olhar crítico sobre as tendências atuais.


Ela conta que sua entrada na faculdade de moda foi um processo de descoberta. “Na época do vestibular, eu estava completamente perdida. Não sabia o que queria fazer, nunca me identifiquei com nenhum curso em específico, e, para ser sincera, nem queria entrar na faculdade. Mas meus pais insistiram muito, então comecei a pesquisar e me deparei com o curso de moda, que me pareceu um universo perfeito, porque unia duas áreas que sempre gostei muito: comunicação e arte. Até pensei em fazer jornalismo, estava como minha segunda opção, mas percebi que na moda também se estuda bastante sobre comunicação, então acabei me identificando muito.”


Desde o início da graduação, a universitária diz ter se sentido acolhida. “Eu nunca me arrependi da escolha. Cada semestre me fez gostar mais do curso. Agora, no último ano, estou mais cansada, mas ainda assim muito realizada com tudo o que aprendi.” Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é uma análise sobre o funk paulista, dialogando diretamente com a estética periférica brasileira e seu entrelaçamento com os anos 2000. “Está sendo incrível estudar sobre isso. Tenho pesquisado desde a origem do funk, especialmente nos anos 90, e percebido como os anos 2000 foram um ponto de virada, com muitas influências internacionais, principalmente do hip hop americano. Tudo se conecta.”


Quando o assunto é a moda dos anos 2000, a estudante reconhece que, apesar de ter nascido nessa época, sente que não viveu plenamente a estética da década. “A gente era criança, então nossas mães que montavam os looks. Vendo fotos antigas, percebo que muita coisa que eu usava tinha essa estética dos anos 2000, mas eu não podia escolher. Sempre pensei que seria muito legal ter sido adolescente nessa época, porque foi uma fase muito marcante para a moda. A gente vê isso claramente hoje, com várias tendências voltando, repaginadas, o que mostra como a moda é cíclica.”


Segundo Marina, o impacto da virada do século influenciou todos os aspectos da cultura, incluindo a forma de se vestir. “Teve todo aquele movimento em torno do novo milênio, a chegada da internet, a tecnologia avançando rapidamente, e tudo isso impactou diretamente a moda e também a música. Britney Spears, por exemplo, foi e continua sendo uma grande referência estética dessa época. Muitas vezes, os artistas nem tinham a intenção de criar tendência, mas isso acontecia naturalmente porque as pessoas estavam muito ligadas no que eles usavam.”


Ela também destaca como a internet e os paparazzi contribuíram para o surgimento de ícones de moda. “A partir dos anos 2000, ficou muito mais fácil saber o que os famosos estavam usando, seja pelas revistas ou pelas fotos em sites de fofoca. As pessoas passaram a ter referências concretas e começaram a se inspirar diretamente nessas figuras públicas, que tinham acesso a marcas internacionais e um guarda-roupa de possibilidades.”


Sobre o ritmo acelerado das tendências, a acadêmica mostra uma visão crítica. “Hoje em dia, tudo muda muito rápido. O que está em alta agora, daqui a dois meses já não está mais. É um ciclo muito curto, principalmente por conta das redes sociais, como o TikTok. Isso gera um desgaste, tanto criativo quanto sustentável. Você não consegue construir um estilo próprio se está o tempo todo mudando o guarda-roupa. E isso impacta na sustentabilidade, porque as pessoas mudam o guarda-roupa o tempo inteiro, e as marcas estão lançando coleção de 15 em 15 dias.” Ela completa: “É complicado até para quem trabalha com moda. Criar algo novo se tornou difícil, porque as pessoas já esperam ver o que está ‘na moda’. Quando alguém foge disso, é logo rotulado como esquisito.”

Ainda assim, ela diz que aprendeu a encontrar um equilíbrio. “Hoje em dia, eu sei o que eu gosto de vestir. Já tive fases em que comprava coisas só porque vi em outra pessoa, mas depois de um tempo percebia que não tinha nada a ver comigo. Agora, eu vejo uma peça, gosto, penso se tem a ver comigo — se tiver, compro, independente de estar na moda ou não.” Sobre esse resgate atual da moda dos anos 2000, Marina conta qual peça ela acha que veio pra ficar. "Uma coisa que eu até tinha preconceito, mas acabei sendo muito influenciada, foi a calça jeans de cintura baixa. E eu sinto que hoje as pessoas prezam mais pelo confortável do que pelo estilo, e pra isso a calça de cintura baixa é uma alternativa melhor que a calça skinny e de cintura alta que a gente costumava usar."


Marina também acredita que os brechós são uma excelente alternativa, tanto para o bolso quanto para quem quer fugir da massificação. “Eu amo brechó. Acho que é a melhor forma de comprar roupa hoje em dia. Claro, tem que ter paciência para garimpar, porque não é como em loja, que tudo está separado por tamanho e estação. Mas eu gosto justamente dessa experiência de procurar e achar peças únicas. E o preço, né? Às vezes você acha coisas incríveis por R$20. No entanto, ela reconhece que no contexto ambiental, o brechó ainda não é uma solução ampla. “A solução real está nas grandes empresas mudarem sua postura diante da sustentabilidade. A gente pode fazer muito, mas não chega nem perto do impacto que elas causam.”

A influência da música também é forte em seu estilo. “Antigamente eu ouvia muito mais cantores internacionais, mas hoje em dia eu me inspiro muito nos artistas brasileiros. Gosto bastante da Tasha e Tracie, por exemplo. Acho o estilo delas único, com muita personalidade. Também admiro muito a Duquesa. Falando mais pop eu gosto muito da Lady Gaga, adoro o estilo dela, não é uma coisa assim muito que da pra usar, mas eu acho que da pra pegar umas coisinhas e adaptar pra gente. E eu gosto muito do Justin Bieber, que tem um visual mais urbano e que dá para adaptar no dia a dia. A Lana Del Rey também, mesmo sendo uma estética diferente, mais romântica.”


Mesmo com todas as contradições que a indústria da moda enfrenta — entre inovação e repetição, identidade e tendência, consumo e sustentabilidade —, os anos 2000 permaneçam como um espelho cultural. Afinal, como ressalta a estudante, “A moda conversa com tudo o que está acontecendo ao nosso redor”. 


Gabrielly Amabily Pereira Maia, também compartilhou sua visão sobre o retorno das estéticas dos anos 2000. Para ela, essa volta representa tanto nostalgia quanto uma nova forma de expressão. “Eu gosto bastante dessa retomada dos anos 2000. Claro que algumas coisas eu não usaria, mas é muito interessante ver como as pessoas estão adaptando essas tendências com um olhar mais contemporâneo. E tem muito disso de a gente se sentir conectado com o passado, com algo que marcou nossa infância.”


Foi ainda na infância que nasceu a paixão da jovem pelo mundo da moda, e a vontade de se tornar estilista foi o que a levou até a universidade. Formada em Design de Moda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2022, a designer e pesquisadora encontrou na memória afetiva e na estética dos anos 2000 o ponto de partida para um mergulho na identidade de uma geração.


Durante a graduação, o interesse inicial pelo estilismo deu lugar a uma afinidade crescente pela pesquisa acadêmica, impulsionada, em parte, pelas experiências remotas e teóricas durante o período da pandemia. “Eu sempre quis estudar moda desde pequena, mas na faculdade fui me encontrando na parte teórica. Participei de grupos de estudo, fui monitora e isso me fez ver o curso de outra forma”, conta ela. Sua mudança de perspectiva culminou na escolha de um tema que unia moda e memória em seus dois Trabalhos de Conclusão de Curso — um prático e um teórico. A estética dos anos 2000, marcada pela sobreposição de peças, brilho, jeans de cintura baixa e muita influência pop, serviu como objeto de análise para pensar como a moda constrói e resgata identidades. “Sempre me marcou o que eu vestia na infância. Não escolhia minhas roupas, mas me lembro de momentos e de como as peças estavam ligadas àqueles sentimentos”, relembra.


Para embasar sua pesquisa, a designer entrevistou colegas de curso e discutiu como suas memórias também estavam entrelaçadas com o que viam na mídia, como revistas, televisão e celebridades. “Muitos citaram referências que vinham da cultura pop: artistas internacionais, premiações, o que passava nos programas de TV. No Brasil, por exemplo, a Sandy, do Sandy & Junior, foi uma figura muito mencionada”, afirma.


A estética Y2K — sigla para "Year 2000" — tem voltado com força nos últimos anos, impulsionada por influenciadores digitais, desafios no TikTok e o apelo nostálgico que a pandemia intensificou. Para a designer, esse retorno é uma prova do caráter cíclico da moda. “Vi uma loja recentemente na Espanha vendendo calça jeans com saia por cima, exatamente como nos anos 2000. Isso mostra que a estética voltou com força. A moda sempre revisita o passado”, observa.


Ao refletir sobre o impacto da moda dos anos 2000 na formação da identidade de uma geração, a pesquisadora destaca como a estética daquela década transcende o tempo. “A nostalgia é muito forte. Durante a pandemia, a saudade de tempos mais leves fez com que esse estilo voltasse com tudo. Mas hoje até crianças que não viveram aquela época estão sendo vestidas com essa estética. Isso mostra o quanto a influência ultrapassa gerações.”


Apesar da força dos anos 2000, ela acredita que outras décadas também têm seu espaço. “Tem sempre gente que vai preferir algo novo ou de outras épocas. A moda é isso: uma mistura entre o novo e o que já foi. Mas é inegável que os anos 2000 marcaram muito e continuam marcando.”


As entrevistas com Marina Barbosa e Gabrielly Amabily Pereira Maia revelam, sob diferentes perspectivas, como a moda dos anos 2000 continua a exercer uma influência profunda no imaginário contemporâneo. Enquanto Marina, ainda inserida no ambiente acadêmico, observa esse retorno com um olhar crítico e prático, conectando-o à estética periférica e à velocidade das tendências atuais, Gabrielly aborda a década com uma sensibilidade mais voltada à memória afetiva e ao resgate identitário. Ambas evidenciam que, além de um movimento cíclico, a moda é também um reflexo das transformações culturais, sociais e emocionais de seu tempo. Assim, os anos 2000 não são apenas uma inspiração estética, mas um ponto de convergência entre passado e presente, onde experiências individuais, referências midiáticas e questões sociais se entrelaçam para formar uma narrativa de estilo que ainda ecoa com força no vestir de hoje. E, no fim das contas, talvez seja essa conversa que nunca sai de moda.


 
 
 

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